terça-feira, 14 de maio de 2019

PLATÃO, OS DIÁLOGOS SOCRÁTICOS: A VIRTUDE COMO SABEDORIA

Para a tradição socrática e platônica, só o conhecimento do bem poderia dirigir a ação justa. Antes de Sócrates, não existia na Grécia uma reflexão organizada sobre o "homem moral" a não ser a posição relativista dos sofistas. Ele inicia a reflexão sobre a Ética, e por isso é chamado "Pai da Ética". 

Contudo, devemos apontar o fato de que, nos períodos anteriores, sempre houve uma definição perfeita do que era o bem comum e o bem individual. Para os sofistas, a Ética é mera convenção social ou pactos entre os homens; Sócrates os refuta e também critica os tradicionalistas: os primeiros por não reconhecer a realidade objetiva dos valores éticos, e os segundos por não se aprofundar no caráter permanente desses valores.


Sócrates defende a necessidade de estabelecer critérios racionais para diferenciar a verdadeira virtude da virtude aparente defendida pelos sofistas. 

Essa doutrina que equipara sabedoria e virtude é denominada "Intelectualismo ético" e está apoiada no pressuposto de que os conceitos morais não são produto de convenções nem de pactos, porque estão referidos às realidades universais, às ideias. A bondade em si, a prudência em si, o que é justo em si mesmo, como todos os outros valores morais, existem por si próprios. 

O homem, por intermédio da razão, os pode definir objetivamente e, uma vez conhecidos, os pode levar para a vida prática. A moral baseada nesses princípios universais (ideias) deve presidir a vida individual, tanto a do cidadão, como a da Polis.

A Ética socrática é profundamente racionalista. Para esse pensador, só o reto conhecimento das coisas leva ao homem a viver bem. Seu grande legado está relacionado a esse saber com uma ordem que emana da natureza das coisas, da essência delas.

 Tanto para Platão como para Sócrates, só o conhecimento do que é virtude pode tornar o homem virtuoso. Platão afirma que só o "sábio" é virtuoso, porque unicamente conhecendo o que é virtude, ou seja, conhecendo a ideia de virtude é possível ser virtuoso.

 Hoje essa afirmação seria no mínimo ingênua, mas devemos considerá-la no contexto do Mundo das Ideias na Filosofia platônica para entender esse raciocínio. Sugerimos a releitura do Mito ou Alegoria da caverna (PLATÃO, 2006, livro VII, p. 267) para entender melhor o "sábio", que é aquele que está em contato com o Mundo das Ideias. 

Na Ética, como na Antropologia platônica, devemos pensar em um bem absoluto, um Bem com "B" maiúsculo. Em Fédon, Platão coloca em evidência seu dualismo antropológico evidenciando que o corpo dificulta o acesso às virtudes e ao verdadeiro conhecimento. Nesse ponto discrepa de seu discípulo Aristóteles.

Logo no período socrático, Platão começa a trabalhar sua teoria das formas ou das ideias, colocando a forma do Bem agathós como a forma metafísica suprema. Platão (1999, p. 149) diz que "a alma quando está em si mesma e analisa as coisas por si mesmas, sem se valer do corpo, encaminha-se para o que é puro, eterno, imortal, imutável [...]". 

É muito clara a distinção metafísica entre corpo e alma: o corpo é visto como um cárcere da alma, e o prazer e os sentidos são extremamente desvalorizados.



A felicidade, eudaimonia

Eudaimonia é um termo formado por o prefixo "eu" que significa "bem disposto" e "daimon", "com um poder divino"; "eudaimon" é o adjetivo para "feliz". No pensamento grego antigo, ser feliz significa poder usufruir os dons divinos. Para Platão, a felicidade é produto da sabedoria. O sábio que acede ao mundo das ideias é então eudaímon: feliz. Contrariamente a esse pensamento, para Aristóteles a felicidade é uma atividade acessível ao ser virtuoso que respeita os valores morais.

Esse tema foi comentado por Platão nas obra A República, (2006, 354a) e As Leis (1991, livro 5) e citado por Aristóteles em Ética a Nicômaco (2002, livro 1). A proposta platônica também é diferente da defendida pelo estoicismo; para os seguidores dessa doutrina, a felicidade resulta da vida harmoniosa, mas não é um fim (telos), e sim um estado concomitante. Porém, tanto para Platão como para Aristóteles, a felicidade é o fim da ação humana.


A virtude, aretê

Em A República (PLATÃO, 2006), Platão, ao reportar-se ás qualidades da cidade, enumera as quatro virtudes principais: a sabedoria (sophia), a coragem ou fortaleza de ânimo (andreia), a temperança (sophrosyne) e a justiça (dikaiosyne). Posteriormente essas virtudes foram chamadas de cardeais, ou seja, fundamentais. 

Platão alerta: não basta conhecer a virtude, devemos também fazer algo voluntariamente para conservar-nos virtuosos. A República não é simplesmente uma utopia, nem simplesmente uma obra de Filosofia Política; envolve um projeto ético-político-educativo. 

Está baseada num princípio ético: para que exista uma sociedade justa, esta deve estar governada por pessoas justas e receber uma educação específica.



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