domingo, 12 de maio de 2019

Introdução à Filosofia de Aristóteles

Vamos compreender a importância de um dos mais influentes filósofos gregos: Aristóteles. Seu pensamento seria retomado na Idade Média, porém a importância dele não se limita a isso. No próprio mundo antigo, as questões filosóficas por ele introduzidas foram e são muito relevantes.

Aristóteles é um filósofo dividido: como homem de seu tempo, nutria profundo desprezo pelos povos fora da Grécia, por ele considerados “bárbaros”.

Por outro lado, dedicou-se a escrever uma filosofia comprometida com certas reflexões sobre a liderança e as formas de se alcançar o conhecimento verdadeiro.

É bem provável que Aristóteles tenha recebido do pai a formação em Medicina, pois, como regia a tradição, deveria seguir o ofício de seu pai. Pode-se supor que, devido à esta instrução médica que recebera, tenha se voltado, posteriormente, ao estudo da natureza, plantas e animais.

As dezoito anos, Aristóteles passou a frequentar a Academia de Platão, em Atenas. Lá, ele permaneceu estudando por vinte anos, até a morte do mestre.

Platão, sem dúvida, influenciou o pensamento aristotélico decisivamente, mesmo que tal pensamento se fundamente, muitas vezes, em uma ruptura com relação à filosofia platônica.

A famosa frase de Aristóteles em relação ao seu mestre é a seguinte: “Sou amigo de Platão, mas mais amigo da verdade”.

De Atenas, então, Aristóteles mudou-se para a Eólida, cujo governante era Hérmias, o qual patrocinou uma escola platônica criada por dois platônicos, Erasto e Coriso. Em tal escola, o estagirista lecionou por três anos, sendo Teofrasto um de seus mais importantes discípulos.

Seu primeiro escrito data desta época. Era Sobre a Filosofia, contra o pitagorismo. Quando Hérmias foi assassinado devido às conspirações políticas, o filósofo se mudou para Mitilene, de onde datam seus primeiros escritos em Biologia.


Vamos entender um pouco sobre a relação entre Aristóteles e Alexandre, o Grande.

Em 342 a.C., Filipe da Macedônia chamou Aristóteles para cuidar da educação de Alexandre, na época com quatorze anos.

Deste período, datam algumas obras das quais restaram apenas alguns fragmentos, a saber:  Da monarquia, Da colonização e as Constituições.

Algumas das principais ideias que Aristóteles possivelmente transmitiu a Alexandre, mas que não foram acatadas, são:

I. a Grécia deveria ser pacificada sem recorrer a um governo central; e

II. não era possível unir os gregos e os bárbaros, visto que os gregos, por natureza e costume, cultivavam a liberdade e os bárbaros submetiam-se ao despotismo.

Na época em que Alexandre iniciou sua conquista do Oriente, Aristóteles, sentindo-se sob o risco de ser considerado traidor, mudou-se para Atenas, onde, em 335 a.C., fundou o Liceu.

De 335 a.C. a 323 a.C., dirigiu o Liceu, localizado entre o monte Licabetos e o Ilissos, num bosque dedicado às Musas e a Apolo Lício - daí, de Lício, vem o nome da escola, Liceu.

A escola era composta de um edifício, um jardim e um caminho, o peripatos, no qual Aristóteles e os estudantes passeavam conversando com entusiasmo sobre Filosofia, sendo esse o motivo de a escola aristotélica ter sido denominada peripatética e os aristotélicos, peripatéticos.

No Liceu, na parte da manhã, Aristóteles dava os cursos chamados acroamáticos, isto é, ensinava oralmente os assuntos filosóficos mais difíceis para os alunos iniciados numa matéria. Na parte da tarde, ensinava retórica e dialética para os não-iniciados.

É provável que Teofrasto e Eudemo exercessem uma espécie de monitoria, ajudando os que tinham dificuldade, além da função de escribas, pois anotavam o que Aristóteles dizia para que tal material servisse na feitura de suas obras.

Em 323 a.C., quando Alexandre morreu e se espalhou um sentimento de aversão aos macedônicos, os atenienses, pela ligação que o filósofo teve com a Macedônia, acusaram Aristóteles de impiedade.

O filósofo, por sua vez, mudou-se para Cálcis, na Eubeia, alegando que fazia isto “para evitar que um novo crime contra a Filosofia fosse cometido”, visto que Sócrates já fora condenado. Vítima de uma doença no estômago, faleceu em 321 a.C., com sessenta e três anos.


A Obra :

São, pelo menos, três níveis diferentes de dificuldades para conhecermos a obra aristotélica:

I. o problema referente ao fato de não possuirmos alguns de seus escritos;

II. as várias interpretações e modificações ocorridas nos textos pelas traduções e comentários árabes, latinos, hebraicos; e

III. as várias interpretações um tanto distintas dos árabes, Averroes e Avicenas, dos cristãos, como Tomás de Aquino, de Kant, de Hegel, de Heidegger e tantos outros.


Em 335 a.C., Aristóteles fundou sua própria escola em Atenas, em uma área de exercício público dedicado ao deus Apolo Lykeios, daí o nome Liceu.15

Vejamos, brevemente, como as obras do filósofo fundaram as distinções entre saberes, presente até hoje:

Como vimos, as primeiras obras, das quais restam poucos fragmentos, são: Alguns Poemas, O Diálogo, Eudemo, sobre a alma, e a carta, Protréptico, dirigida ao príncipe Temisão, de Chipre, Sobre o que é Filosofia;

as obras acroamáticas, para os iniciados, formam o que chamamos Corpus aristotelicus. Tais obras podem ser consideradas como próprias a um determinado campo do saber, visto que os saberes ou as ciências diferem conforme a natureza do objeto que investigam. Conforme o gênero de ser, uma ciência distinta, difere de acordo com a natureza de seu objeto de investigação e, portanto, aos princípios e causas, bem como ao método. Há apenas três tipos de objetos e, portanto, três tipos de conhecimento, a saber: o produtivo, o prático e o teorético, cujo objeto é o ser em si e por si, independente do sujeito que conhece, sendo os princípios e as causas aquilo que faz com que os seres existam e sejam como são.


O método das ciências teoréticas, o demonstrativo, deve partir de princípios universais e necessários a partir dos quais explicamos a existência dos seres e as consequências ou efeitos dos princípios. A partir do conceito de movimento, Aristóteles irá classificar as ciências teoréticas.

Como vimos, desde os pré-socráticos, existe o problema de conciliar e, a partir de então, estabelecer o que é real e o que é aparência, o que se pode e se deve conhecer e o que é impossível conhecer, pois não existem, enfim, as questões sobre o ser e o não-ser, o uno e o múltiplo, a identidade e a mutabilidade, o que é imóvel, imutável e idêntico a si mesmo e o que é móvel, mutável e múltiplo.

Segundo Aristóteles, ambas podem ser conhecidas, tanto as coisas mutáveis, quanto as imutáveis.

Logo, temos as seguintes distinções: Ciências Teoréticas I e Ciências Teoréticas II.


Ciências Teoréticas I

São Ciências Teoréticas I as Ciências Físicas ou ciências dos seres naturais, aqueles que vêm a ser, que têm como princípios o movimento e o repouso. Com relação a tais ciências, temos os seguintes escritos de Física ou Filosofia natural: a Física, Sobre o céu, Sobre a geração e a corrupção, Sobre os meteoros; os escritos de Biologia (estudo dos animais e plantas): História dos animais, Sobre a geração e a corrupção dos animais, Sobre a transmigração dos animais, Sobre os movimentos dos animais; e os escritos de Psicologia (pois a alma é o princípio não movente de todos os seres moventes, isto é, de todos os seres vivos): Sobre a alma e os Parva Naturalia (Pequenas naturezas), que tratam da nutrição, percepção, pensamento, imaginação, memória, sonho, sono e vigília, respiração etc.

Teoréticas II

São Ciências Teoréticas II as Matemáticas, que estudam os seres imóveis, buscando apenas as formas distintas da materialidade mutável dos seres sensíveis, embora as formas matemáticas não existam separadas das coisas físicas.

São quatro os tipos de ciências matemáticas teoréticas:

1. a Aritmética, que estuda os números;
2. a Geometria, que estuda as figuras geométricas;
3. a Música, que estuda os ritmos e harmonias entre os sons; e
4. a Astronomia, que estuda os corpos celestes. Apesar de alguns desses entes matemáticos – corpos celestes – poderem se deslocar no espaço, tal movimento local não transforma essencialmente seus seres. Trata-se, portanto, de entidades imóveis, qualitativa e quantitativamente, isto é, em si mesmas imóveis e imutáveis.

Aristóteles não escreve tratados de Matemática, mas se utiliza de princípios matemáticos em todas as suas obras, principalmente nos escritos de Metafísica e nos escritos de LÓGICA, conhecidos como Organon (título posteriormente atribuído e que significa Instrumento).

O Organon, que, de modo geral, trata dos princípios do pensamento e da linguagem do discurso científico e da argumentação lógica (que constitui princípios de todos os conhecimentos) constitui-se de: Categorias, que trata dos predicados dos seres; Sobre a Interpretação, que trata do valor de verdade das proposições; Primeiros Analíticos, que trata dos silogismos científicos; Segundos Analíticos, sobre a demonstração, o silogismo dedutivo, a indução, a definição, o conhecimento dos primeiros princípios das ciências; Tópicos, sobre a dialética e sua relação com o conhecimento; Refutações sofísticas, contra os argumentos sofísticos.


Metafísica

A Filosofia primeira ou a Metafísica é teorética, pois se refere ao “estudo dos primeiros princípios de todos os seres”, ou ao “estudo do ser enquanto tal”, ou seja, o ser sem qualquer determinação particular (como possuem os seres físicos, matemáticos, psíquicos, técnicos etc.), mas em sua universalidade absoluta.

Trata-se de investigar o ser imutável, primeiro, e absolutamente necessário, que existe em si e por si, que é causa de todos os outros seres, que é fundamento do mundo.

Enquanto a Física estuda os seres móveis, a metafisica estuda os seres imóveis e distintos dos seres móveis e visíveis.

Assim sendo, para esta Filosofia primeira, empregam a expressão de Metafísica (ta meta ta physica, que pode significar tanto as coisas além da Física, como os escritos posteriores aos escritos da Física, pois Andrônico de Rodes cunhou tal termo para designar os tratados classificados depois dos da Física).

Tal ciência teorética é a mais nobre, pois investiga os princípios de todas as outras ciências, a saber, os atributos essenciais do ser, aqueles que fazem com que o ser seja o que é e, portanto, que todos os seres sejam o que são, visto que, como disse Aristóteles, trata-se de “considerar o ser enquanto ser, isto é, simultaneamente, sua essência e os atributos que lhe pertencem enquanto ser”.

Você sabe como se compõe a obra Metafísica:

A obra, Metafísica, é composta de quatorze livros que tratam, resumidamente, da ciência, das quatro causas, da verdade, do conceito de natureza, dos princípios das Ciências, do princípio de não-contradição, do conceito de substância material, formal e do composto, da potência e do ato, do uno e do múltiplo, do movimento e do infinito, das substâncias sensíveis e suprasensíveis, da teoria das ideias, da teologia, do primeiro motor imóvel etc.



Ciências Práticas

Enquanto as Ciências Teoréticas estudam o ser em si e para si, as Ciências Práticas estudam o ser para o homem, tomando o homem como agente da ação que tem como finalidade o próprio homem.


As Ciências Práticas tratam da práxis humana, que tem como fundamento a escolha subjetiva deliberada, que envolve paixões e razões, sempre no âmbito do particular, do contingente, do possível, ao contrário das Ciências Teoréticas que tratam da contemplação do
ser independentemente de qualquer subjetividade daquele que conhece, é o conhecimento do ser e não ser das ações humanas, sempre no âmbito do universal, do essencial, do necessário.

Apesar de a ação humana ser algo particular, que depende do agente, do estado em que se encontra e das circunstâncias em que deve agir, podendo ou não agir, estando sujeito a imprevistos, acasos, causas concomitantes ou acidentais que desviem sua ação ou a impeçam, há finalidade nas ações, seja o fim o bem em si, seja o que é bom ou vantajoso para o agente e, desse modo, há certa regularidade e universalidade que permitem que as ações sejam objetos cognoscíveis e, portanto, os estudos práticos sejam chamados Ciências.

As Ciências Práticas são:

I. a Ética, que estuda as ações e disposições morais dos homens de modo a fornecer instruções práticas para que o homem se torne bom e, portanto, possa ser feliz. As obras são a Ética a Eudemo e a Ética nicomaquéia; e

II. a Política, que estudas as ações dos homens enquanto cidadãos da polis, procurando estabelecer um regime político cuja finalidade seja o bem dos indivíduos e da cidade. As obras são a Política e A constituição de Atenas.


Ciências Produtivas:

Vamos entender as diferenças entre as Ciências Produtivas e Ciências Práticas.

As Ciências Produtivas são diferentes das Ciências Práticas, pois tratam da ação prática produtiva, fabricadora, a poiésis, que se distingue da práxis pela finalidade da ação: enquanto na ação prática a finalidade é interna à ação, um bem para o agente, a finalidade da ação produtiva é externa ao agente, está no artefato, na obra, no outro.

Lidam também com o particular, o contingente, mas não dependem das paixões do agentes, e sim de seu conhecimento das técnicas, dependem mais de um conhecimento objetivo do que subjetivo, como no caso das ações éticas e políticas.

Por isso, tal conhecimento objetivo, tal produção particular de algo, conforme certo modelo ou paradigma, certas técnicas, admitem regularidades e constância, sendo também consideradas ciências.

Quanto às Ciências Produtivas, Aristóteles escreveu a Arte Retórica, sobre a maneira de suscitar paixões e organizar o discurso retórico escrito e oral, e a Arte Poética, sobre a origem e a natureza da tragédia.




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