segunda-feira, 13 de maio de 2019

Ética e Trabalho: Evolução Histórica do Trabalho

A palavra trabalho deriva do latim tripalium, que era o nome de um instrumento formado por três paus aguçados, com o qual os agricultores batiam o trigo, as espigas de milho, o linho, para rasgá-los e desfiá-los. Na maioria dos dicionários, contudo, se encontra a palavra tripalium relacionada a um instrumento de tortura. O fato é que este termo está, geralmente, ligado à ideia de tortura e sofrimento, algo obrigatório e nada prazeroso.

O trabalho, de uma forma muito simplificada, pode ser compreendido como sendo a disposição da energia humana (física e mental) voltada para uma atividade determinada e útil. O homem, colocando-se ao serviço do trabalho, é capaz de modificar a própria natureza.

Na linguagem bíblica, a ideia de trabalho também está ligada a de sofrimento e de punição: “Ganharás o seu pão com o suor de seu rosto” (livro do Gênese). Assim, é por um esforço doloroso que o homem sobrevive na natureza. Os gregos consideravam o trabalho como a expressão da miséria do homem, os latinos opunham o otium (lazer, atividade intelectual) ao vil negotium (trabalho, negócio).

Será que o trabalho sempre foi visto dessa forma?

Há séculos, desde que surgiu a propriedade privada e os meios de produção, a prática dominante nas relações de trabalho ocidentais foi o escravismo, ou seja, o emprego de trabalho forçado existiu no desenvolvimento da agricultura, pecuária, extração mineral e no comércio. Para os gregos antigos, o trabalho era desprezado, ficando a cargo dos escravos, pois assim se valorizava a única atividade considerada digna de um homem livre: o ócio dos filósofos. Buscavam inclusive inúmeras justificativas éticas para a escravidão. 

Para Aristóteles a diferença entre os homens era natural, não havendo qualquer contradição na divisão existente entre o trabalho manual e as atividades intelectuais e políticas. O cidadão grego não exercia o trabalho braçal porque tinha que ter tempo livre para se dedicar à filosofia e ao exercício da cidadania. Para que isso fosse possível os escravos executavam todas as atividades inferiores determinadas pela vontade das classes superiores, daí o surgimento da divisão de classes.

A decadência do Império Romano culminou na ascensão do período que vamos conhecer como a Idade Média, cujas relações de produção na Europa Ocidental evoluíram do escravismo puro ao servilismo, ou seja, da sujeição do indivíduo mais fraco ao trabalho, passando para o servo prisioneiro da terra e trabalhador explorado que produzia com suas próprias mãos quase tudo de que necessitava.

Naquele tempo, a partir de meados do século XII, a Igreja Católica, pregando a adoração a Deus, defendia o desapego às riquezas terrenas. Para a Igreja manter o seu poder, ela condenava o trabalho como forma de enriquecimento, pois, este deveria ser visto apenas como meio de subsistência, de disciplina do corpo e purificação da mente. Assim, o trabalho servia como instrumento de dominação social e de condenação a qualquer rebeldia contra a ordem estabelecida.

Era para se dedicar à funções consideradas nobres, como a política, a caça, a guerra, o sacerdócio e o exercício do poder, que se valorizava o ócio entre as classes senhoriais, assim como ocorrera na Grécia antiga. A ociosidade não era sinônimo de preguiça, mas de abstenção às atividades manuais. Essa ordem feudal, fundada na subsistência e na servidão, juntamente com o desenvolvimento do comércio e das atividades manufatureiras é que dará origem à base de uma nova estrutura social: a sociedade capitalista.

 O surgimento de um mercado consumidor não só irá conviver por algum tempo com antigas formas de servidão, como fará renascer a escravidão: o trabalho compulsório de africanos nas colônias das Américas é um fato. Para as elites que moldavam esse sistema novo – capitalista – o trabalho livre assalariado passava a ser o ideal para estimular o consumo.

Essa é a concepção burguesa da liberdade individual do homem: ele é livre para usar a força de seu corpo como quiser, portanto, se ao escravo na América não era dada a oportunidade da escolha, ao trabalhador europeu era concedido o direito soberano da liberdade. Dessa forma, o trabalhador passa a se submeter ao capital para sobreviver.

Podemos, dessa forma, afirmar que a essência do sistema capitalista está na separação do capital e do trabalho. Essa separação criou dois tipos de homens livres: o trabalhador livre assalariado, que vive exclusivamente de seu trabalho, ou seja, da venda de sua força de trabalho, e o burguês, ou capitalista, proprietário dos meios de produção. Em relação aos modelos anteriores de sociedade, o que aparecia de novo ao se conceder a liberdade para todos os indivíduos, seria o estabelecimento de direitos e deveres através de um Contrato Social. Dessa forma, ficam definidos os compromissos de ambas as partes - Estado e Sociedade – para garantir um desenvolvimento político e econômico com base na produção e no consumo, desenhando a sociedade atual, que virá a ser conhecida como - sociedade moderna.

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