domingo, 5 de maio de 2019

Bertrand Russell



Nasceu a 18 de maio de 1872, em Ravenscroft, Monmouthshire, Inglaterra. Foi o mais novo dos três filhos do Visconde de Amberley, filho de Lorde John Russell, e de Kate Stanley, filha do Barão Stanley de Alderley. A sua existência no novo lar era confortável, mas muito fechada. Russell tornou-se um rapazinho tímido e solitário, dominado por uma educação espartana (embora afectuosa) imposta pela sua puritana avó. A sua reserva foi sem dúvida acentuada pelo mistério tecido à volta da vida dos seus pais e da sua morte prematura. Esse mistério iria Russell desvendá-lo anos mais tarde, ao consultar os seus documentos pessoais. Russell procurava consolo para a sua solidão escrevendo e, no que escrevia, discutia atitudes e convicções firmadas. Já nos princípios da sua adolescência começou a mostrar-se céptico acerca dos dogmas religiosos, convencido de que a felicidade terrena era o fim essencial da vida.

Em 1890 começa a frequentar o Trinity College onde se concentra na Matemática e na Filosofia. Aí, em companhia de amigos brilhantes que partilhavam a sua intensa curiosidade intelectual, confirmou-se o seu gênio. Transformou-se numa pessoa com um extraordinário poder de expressão e muito expansiva. Após três anos doutora-se com a tese An Essay on the Foundations of Geometry. O trabalho de Russell sobre os fundamentos da Matemática impulsionou a filosofia inglesa numa outra direcção. Em 1900, "o mais importante ano na minha vida intelectual", Russell foi com Whitehead ao Congresso Internacional de Filosofia em Paris, onde ouviu Peano a apresentar as suas descobertas na lógica simbólica. Esta experiência impele-o a fazer prolongadas investigações que tiveram como fruto ThePrinciples of  Mathematics (1903).

O trabalho realizado é verdadeiramente extraordinário constituindo um instrumento de grande fecundidade para a solução de numerosos problemas de filosofia da ciência. Esse trabalho contribuiu decisivamente para chamar a atenção mundial sobre os seus autores. Depois, em colaboração com Alfredo North Whitehead, dedica-se a desenvolver esse trabalho que publica em três volumes, entre 1910 e 1913, com o título de Principia Mathematica.Depois de um curto período de actividade política,  Russell é convidado pela Universidade Americana de Harvard, onde pronuncia uma série de lições e publica um novo trabalho sobre Our Knowledge of the External World as a Field for Scientific Method in Philosophy (1914).

O desencadeamento da Primeira Grande Guerra Mundial decide-o a iniciar um grande movimento pacifista, de acordo com as suas convicções. É por essa altura que escreve Principles of Social Reconstruction (1916), Justice in War Time (1916), Political Ideals (1916) e Roads to Freedom: Socialism, Anarchism and Syndicalism (1918).

Russell mostra-se sempre um paladino dos perseguidos e um crente na supremacia do indivíduo. Em 1916, quando seis indivíduos se recusaram a combater por motivos de consciência e foram presos por andarem a distribuir panfletos pacifistas, Russell declarou ser o autor dos panfletos, incitando as autoridades a voltarem-se contra ele. O resultado foi um julgamento que ficou célebre pela defesa que Russell apresentou. Foi multado em cem libras e depois sumariamente demitido do cargo que desempenhava no Trinity College.

A guerra despertou uma profunda consciência social no pensamento de Russell. Não só aumentou a sua compaixão pelo sofrimento alheio como também as privações próprias, incluindo alguns meses de cadeia, lhe deram a conhecer – em primeira mão – os poderes repressivos do estado contra os quais os indivíduos estão indefesos.

Em 1918 esteve preso vários meses porque escreveu um panfleto acusando o Exército Americano de intimidar as suas tropas impedindo-as de irem a casa. Durante os quatro meses que passou na prisão escreveu An Introduction to Mathematical Philosophy, publicada pela primeira vez em 1919. O livro foi um fardo pesado para o Governador da Prisão que, apesar de incapaz de o compreender, foi obrigado a ler o manuscrito, pois podia conter possíveis tendências revoltosas. 

Depois da guerra, em 1920, Russell foi passar alguns meses à União Soviética com uma delegação Trabalhista. Falou com Lénine, Trotsky e Gorky e procurou conhecer a estrutura do novo regime social ali instalado. A sua reacção em presença do caos que reinava nesses primeiros tempos no novo estado soviético era ambivalente: considerava a transformação como bem-vinda, mas sentia-se perturbado pela miséria e sofrimento que observou. Tendo previamente rejeitado o capitalismo, era levado a acreditar que não havia, na altura, nenhuma alternativa adequada. No regresso, e apesar da sua simpatia pelas finalidades mais ousadas do socialismo, confessou-se desiludido com o que viu e proclamou-o francamente na obra que a seguir publicou: The Practice and the Theory of Bolshevism (1920).

Regressou a Inglaterra em 1944 e foi nomeado para leccionar cinco anos no Trinity College, de Cambridge, ao mesmo tempo que foi eleito Membro Vitalício do mesmo colégio universitário. Depois do lançamento das bombas atômicas sobre as cidades japonesas fez um dos seus raros discursos na Câmara dos Lordes, predizendo o aparecimento da bomba de hidrogênio e prevenindo a Humanidade contra o perigo que ela representava. Quando a guerra terminou, intensificou a sua acção para a paz no mundo, convencido que esta só se poderia alcançar pelo desarmamento nuclear geral.

A 10 de Novembro de 1950 foi anunciado que Bertrand Russell tinha ganho o Premio Nobel da Literatura respeitante a esse ano, «em reconhecimento de numerosos trabalhos da sua autoria em que se defendem os ideais mais elevados ». Quando um mês mais tarde recebe, em Estocolmo, a quantia de trinta mil dólares, o secretário da Academia Sueca referindo-se ao laureado, proclama- o um dos mais brilhantes protagonistas dos ideais humanos e campeão da liberdade de expressão do mundo ocidental. Com a sua crescente dedicação à causa do pacifismo o seu nome tornou-se sinônimo da campanha pela paz. A sua casa foi literalmente inundada por cartas vindas dos quatro cantos do mundo. A resposta a essas cartas sobrecarregou ainda mais o seu programa diário, já muito pesado. Em 1954 as experiências com a bomba de hidrogénio realizadas no atol de Bikini acentuaram a urgência da sua tarefa.

Os signatários desse documento formaram o núcleo da I Conferência Pugwash realizada na Nova Escócia, em 1957. Nela participaram cientistas tanto de Leste como do Ocidente. Russell foi eleito presidente desta conferência e das que lhe seguiram. No entanto, não se contentou com o facto do Movimento Pugwash poder ter influência decisiva no desarmamento e procurou outros métodos com afinco. Escreveu a governantes de todo o mundo sobre os problemas de maior acuidade na altura. Não contente com a reação obtida até aí, enveredou com inesgotável energia pelo campo oferecido pela possibilidade de evitar a guerra por meio de manifestações em massa. O ano de 1958 viu nascer a campanha pelo Desarmamento Nuclear, tendo Russell como presidente.


Em 1963 as suas múltiplas tarefas atingiram tais proporções que se organizou a Fundação Bertrand Russell para a Paz destinada a aliviar um pouco o trabalho pessoal de Russell e a afirmar o apoio que recebia dos mais variados sectores. A fundação ocupava-se especialmente de problemas internacionais, em particular das aspirações do povo em nações do chamado ‘terceiro mundo’. Começa então a dedicar grande parte da sua atenção à Guerra do Vietname, censurando asperamente a intervenção dos americanos.

Retirou-se do Partido Trabalhista Inglês em 1965, por não concordar com o apoio dado pelo governo do seu país à política seguida pelos americanos em vários campos. Um ano mais tarde discursou na reunião preparatória do Tribunal Internacional dos Crimes de Guerra, instituição fundada para investigar acções criminosas cometidas pelos americanos no Vietname. Russell foi eleito presidente do Tribunal, que mandou publicar os factos averiguados em 1967, ano em que Russell publicou o seu livro War Crimes in Vietnam.

No seu octogésimo aniversário, Russell ofereceu um conselho típico de longevidade. Recomendou ‘um hábito hilariante de controvérsias olímpicas’, que nos mantivesse ocupados e que evitássemos todos os tipos de excessos – excepto fumar ("Até à idade de quarenta e dois anos fui um abstêmio. Mas, nos últimos sessenta anos tenho fumado incessantemente, parando somente para comer e dormir")

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